O show tem que continuar? Bisping segue plano tático perfeito e Anderson tropeça na própria sombra

No ótimo filme Birdman, Michael Keaton vive um ator que ao tentar se desvencilhar de um personagem, acaba tendo sua carreira estagnada e entra em um ostracismo. Esquecido pelo público e mídia, ele tenta resgatar sua carreira, mas o seu personagem acaba virando seu alter ego e se transformando em uma espécie de voz interior. Desvincular-se de uma imagem que criamos não é tarefa fácil. Se é díficil para uma pessoa desconhecida, imagine então para uma celebridade.

O que vimos no último dia 27 foi a tentativa de um lutador em manter sua imagem de genio, de fora de série. Para Anderson “apenas” vencer não parece ser uma opção. Durante sua carreira, o brasileiro se acostumou a proporcionar momentos mágicos e únicos. Apoiado em características físicas, mentais e técnicas bastante próprias, o aranha construiu a reputação de maior lutador de todos os tempos para muita gente. Entretanto, aos 40 anos, ele parece ainda não ter percebido que não é mais o mesmo lutador de cinco anos atrás.

Anderson sempre foi um contragolpeador rápido, preciso e com poder de nocaute. O jogo mental e as provocações visavam desestabilizar seus adversários e os fazer cair em sua teia (desculpem o trocadilho infame). Uma vez estando onde o brasileiro queria, seus oponentes sucumbiam as suas esquivas e golpes certeiros. Era uma fórmula muito eficiente, mas que dependia da combinação física e técnica peculiar do aranha.

Acontece que contra Michael Bisping nós testemunhamos a versão mais lenta já vista do Anderson Silva, resultado evidente da decadência física a qual todos nós estamos e estaremos sujeitos. Além disso, depois das derrotas para Weidman, o doping e a desastrosa defesa junto a comissão atlética, o brasileiro já não é mais tão temido assim. A consequencia disso é que atualmente é bem mais complexo para Anderson criar seus jogos mentais.

É claro que do outro lado estava um lutador completo, técnico e com uma estratégia muito bem montada. O inglês tem muitos méritos por ter vencido (e sim, ele venceu a luta), não é justo afirmar que Anderson “perdeu por que quis”. Mas ao fim da luta eu tive a certeza que um pouco de senso de urgência e foco em vencer, a luta teria um outro resultado.

Como explicar que ao voltar para o quarto round com um oponente ainda debilitado por um knockdown o brasileiro tenha escolhido passar os cinco minutos basicamente colado na grade se esquivando? Como entender que após um lindo chute frontal que quase levou Bisping a lona ele não tenha partido para a definição do combate?

Talvez uma das explicações se encontre no seu discurso pós luta. Se ele acreditou ter vencido o combate de forma tão convincente, significa que na visão dele o espetáculo é mais importante que a luta em si.

O aranha ainda tem lenha pra queimar e ainda tem totais condições de vencer qualquer um fora do top 5 da categoria. Entretanto é necessário ajustar o seu jogo em alguns aspectos. Vejam bem, não estou falando em mudar suas características, mas apenas mudar alguns pontos. Ter mais senso de urgência, agredir mais e ser mais conservador se defendendo são apenas alguns exemplos. A grande dúvida é se ele vai se conscientizar disso e mudar ou se ele vai decidir que o show ainda precisa continuar.

Postagens Relacionadas:

0 comentários:

Postar um comentário