Entrevista com Deomar Santos, árbitro de jiu-jitsu nos principais eventos no estado da Bahia

Dema arbitrando no campeonato baiano da FBJJMMA.
Deomar Santos mais conhecido como Dema é arbitro dos principais eventos baianos de jiu-jitsu, ganhou o prêmio de Melhores do Ano de 2015 na modalidade Árbitro pela Sudesb e lidera um dos centros de treinamento da equipe GFTeam Bahia.

Amante da arte suave, Dema gosta de combates movimentados: “As lutas ruins são as que tenho que desclassificar, não gosto, quero ver jiu-jitsu!”.

O papel do árbitro nas lutas é determinar o vencedor no final da peleja, baseando-se nas regras do evento e ainda não se sobressair nos combates, uma vez que as estrelas são os atletas. Em entrevista com o Espaço BJJ, Dema falou um pouco mais sobre esta profissão bastante criticada por todos, porém fundamental em qualquer esporte.

Confira a entrevista completa:

Espaço BJJ: Dema, como foi seu início no jiu-jitsu?
Dema: Eu sempre gostei de artes marciais, pratiquei judô e karatê quando criança. Na adolescência conheci a capoeira e pratiquei por dez anos com o Metre Traíra, formado pelo Mestre Bamba. Ainda quando praticava capoeira vi o primeiro UFC e me encantei com jiu-jitsu. Royce magro, como eu, vencendo todos. Na capoeira eu nunca me arriscava com alguém maior, mais forte. Foi quando me inscrevi na famigerada Triathlon, onde treinava com Guilherme Assad e Minotauro. Gostei tanto do jiu-jitsu que nas férias chegava a treinar três vezes ao dia.

Espaço BJJ: O que é necessário para se tornar um árbitro de jiu-jitsu?
Dema: Eu dividiria o critério para arbitrar lutas de jiu-jitsu em dois: um objetivo e outro subjetivo. O objetivo é estudar a regra a fundo, estar sempre treinando, competindo, ver lutas na net e participar de cursos, fóruns e reciclagem. Já o subjetivo é gostar do ofício, do meio e ser tranquilo para críticas de todas as naturezas que virão.

Espaço BJJ: Quanto custa a preparação para se tornar um árbitro de jiu-jitsu?
Dema: Eu posso falar da preparação para ser um árbitro da CBJJ, por que é a Confederação mais importante, e a que faço parte do quadro de árbitros licenciados. Nessa é necessário fazer o curso que dura um final de semana, e a realização das provas. O valor do investimento é R$ 350 em média dependendo do local a ser aplicado.

Espaço BJJ: Existe diferença nos pré-requisitos para atuar dos eventos? Levando em consideração a quantidade de federações existentes.
Dema: Existem muitas diferenças entre federações, o que é muito prejudicial ao esporte. No futuro, com todas as mudanças de regras em curso, se não for alterada a legislação para a criação de novas federações existirá muitos estilos diferentes de jiu-jitsu. O principal pré-requisito é ser faixa preta e fazer o curso.

Espaço BJJ: Como são escolhidos os árbitros que atuarem nas lutas?
Dema: Na FBJJMMA é necessário ser Faixa Preta, mas esse ainda não é um critério estanque, ter curso de arbitragem, e iniciar um estágio com três árbitros na área por algumas etapas. Este último critério já está sendo implantado e será regra. Na CBJJ é necessário passar na rigorosa prova que eles aplicam e fazer o estágio com três árbitros.

Espaço BJJ: Como é a remuneração de um árbitro? Atualmente tem como sobreviver dessa profissão?
Dema: É impossível sobreviver aqui na Bahia com o cachê de árbitro, todavia a FBJJMMA tem um dos melhores cachês para árbitro do Brasil. Nosso esporte ainda é amador, ainda não existe regulamentação legal da profissão, ainda é tudo muito novo. Sem falar que não existem tantos eventos para os profissionais atuarem. No exterior esse quadro muda, os valores pagos são mais atrativos, há mais eventos, também não existem tantos árbitros formados quanto aqui.

Espaço BJJ: O que você acha desse sistema de preparação de árbitros? Considera bem feito? Caro? Acha que falta incluir alguma coisa no processo?
Dema: Um curso realizado num único final de semana não irá preparar um bom árbitro por si. A formação depende muito mais do interessado do que da Federação. O curso tem o objetivo da exposição estritamente teórica. A prática é onde se forma de fato bons árbitros, aí depende dele. Sobre o valor, R$ 350, não acho caro para ter uma certificação internacional, porque em dois eventos o profissional já paga seu curso. Para pensarmos em valor temos que fazer algumas comparações com outros esportes como o Judô, MMA, Boxe, só para citar alguns.

Espaço BJJ: Você acha que falta valorização a profissão?
Dema: Sou otimista, quem deve valorizar a profissão são os profissionais. Nós temos que impor o respeito, não aceitar cachê muito baixo, nem condições ruins de trabalho, nem críticas desrespeitosas a nível pessoal. Acredito que já melhoramos e melhoraremos ainda mais.

Espaço BJJ: Uma luta que você arbitrou ano passado em uma das etapas do campeonato baiano realizado pela Federação Baiana de Jiu-Jitsu e MMA entre dois faixas brancas repercutiu nos principais canais do esporte, onde um dos atletas faz uma dancinha e acaba sendo desclassificado. Qual sua opinião sobre o ocorrido?
Dema: Muito se especulou sobre o fato, mas a resposta é que eu apenas fiz cumprir a regra. Quando se aplica a regra o árbitro está amparado. Não é permitido nada na área de luta que não seja lutar, e ele não lutou. Claro que temos que pensar que se trata de um faixa-branca, inexperiente, todavia a regra é para todos. Quero ressaltar que a postura do professor do atleta foi muito condizente com a de um grande Mestre quando me pediu desculpas pelo fato. (Veja o vídeo do episódio)



Espaço BJJ: Qual foi a melhor luta que você já arbitrou? E a pior? 
Dema: Difícil dizer porque foram muitas lutas boas, mas eu vou escolher duas que estão no Youtube. Ambas são entre os mesmos atletas que são “Pimpolho” vs “ Kong”, uma vitória para cada. Outra luta que eu me lembro muito boa foi entre Junior Rios e Luan Carvalho em Feira de Santana. As lutas ruins são as que tenho que desclassificar, não gosto, quero ver jiu-jitsu! (Confira uma das lutas abaixo)



Espaço BJJ: Quais dicas você daria para atletas, técnicos e líderes de equipe, uma vez que sabemos que o árbitro sempre é bastante contestado e criticado por suas atuações?
Dema: A crítica é válida, não se pode ter medo de criticar, porém há formas educadas de fazer isso. A crítica ajuda no crescimento do evento. Há um coordenador de arbitragem em todos os eventos, esse é a pessoa com a qual devem ser feitas as críticas. Esse é responsável por chamar a atenção do árbitro, substituí-lo, propor cursos de reciclagem, enfim, responde pela equipe.
Há outra demanda que me incomoda muito, talvez a todos os árbitros, que é a falta de conhecimento da regra. Portanto professores, leiam, estudem, por que o faço quase todos os dias, e ainda assim cometo alguns equívocos.

Espaço BJJ: Quais são seus os planos para 2016?
Dema: Quero arbitrar um evento internacional no Rio e outro em Salvador. Além desses vou continuar firme nos baianos da FBJJMMA e participar de algumas copas que seja convidado.

Espaço BJJ: Depois desse tempo na arte suave, quais são os seus sonhos com no esporte e na profissão de árbitro?
Dema: Meu sonho no esporte como atleta é consegui uma medalha em um evento internacional da CBJJ, quem sabe ser campeão, e disputar o mundial Master. Como árbitro, espero um dia poder arbitrar uma final do mundial na faixa preta adulto, que sabe até o absoluto.



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