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Dema arbitrando no campeonato baiano da FBJJMMA. |
Amante
da arte suave, Dema gosta de combates movimentados: “As lutas
ruins são as que tenho que desclassificar, não gosto, quero ver jiu-jitsu!”.
O
papel do árbitro nas lutas é determinar o vencedor no final da peleja, baseando-se
nas regras do evento e ainda não se sobressair nos combates, uma vez que as
estrelas são os atletas. Em entrevista com o Espaço BJJ, Dema falou um pouco
mais sobre esta profissão bastante criticada por todos, porém fundamental em
qualquer esporte.
Confira
a entrevista completa:
Espaço BJJ: Dema, como foi seu início no jiu-jitsu?
Dema: Eu sempre gostei de artes marciais, pratiquei judô e karatê quando
criança. Na adolescência conheci a capoeira e pratiquei por dez anos com o
Metre Traíra, formado pelo Mestre Bamba. Ainda quando praticava capoeira vi o
primeiro UFC e me encantei com jiu-jitsu. Royce magro, como eu, vencendo todos.
Na capoeira eu nunca me arriscava com alguém maior, mais forte. Foi quando me
inscrevi na famigerada Triathlon, onde treinava com Guilherme Assad e
Minotauro. Gostei tanto do jiu-jitsu que nas férias chegava a treinar três
vezes ao dia.
Espaço BJJ: O que é necessário para se tornar um árbitro de
jiu-jitsu?
Dema: Eu
dividiria o critério para arbitrar lutas de jiu-jitsu em dois: um objetivo e
outro subjetivo. O objetivo é estudar a regra a fundo, estar sempre treinando,
competindo, ver lutas na net e participar de cursos, fóruns e reciclagem. Já o
subjetivo é gostar do ofício, do meio e ser tranquilo para críticas de todas as
naturezas que virão.
Espaço BJJ: Quanto custa a preparação para se tornar um
árbitro de jiu-jitsu?
Dema: Eu posso falar da preparação para ser um árbitro
da CBJJ, por que é a Confederação mais importante, e a que faço parte do quadro
de árbitros licenciados. Nessa é necessário fazer o curso que dura um final de
semana, e a realização das provas. O valor do investimento é R$ 350 em média
dependendo do local a ser aplicado.
Espaço BJJ: Existe diferença nos pré-requisitos para atuar
dos eventos? Levando em consideração a quantidade de federações existentes.
Dema: Existem muitas diferenças entre federações, o que
é muito prejudicial ao esporte. No futuro, com todas as mudanças de regras em
curso, se não for alterada a legislação para a criação de novas federações
existirá muitos estilos diferentes de jiu-jitsu. O principal pré-requisito é
ser faixa preta e fazer o curso.
Espaço BJJ: Como são escolhidos os árbitros que atuarem nas
lutas?
Dema: Na FBJJMMA é necessário ser Faixa Preta, mas esse
ainda não é um critério estanque, ter curso de arbitragem, e iniciar um estágio
com três árbitros na área por algumas etapas. Este último critério já está
sendo implantado e será regra. Na CBJJ é necessário passar na rigorosa prova
que eles aplicam e fazer o estágio com três árbitros.
Espaço BJJ: Como é a remuneração de um árbitro? Atualmente
tem como sobreviver dessa profissão?
Dema: É impossível sobreviver aqui na Bahia com o cachê
de árbitro, todavia a FBJJMMA tem um dos melhores cachês para árbitro do
Brasil. Nosso esporte ainda é amador, ainda não existe regulamentação legal da
profissão, ainda é tudo muito novo. Sem falar que não existem tantos eventos
para os profissionais atuarem. No exterior esse quadro muda, os valores pagos
são mais atrativos, há mais eventos, também não existem tantos árbitros
formados quanto aqui.
Espaço BJJ: O que você acha desse sistema de preparação de
árbitros? Considera bem feito? Caro? Acha que falta incluir alguma coisa no
processo?
Dema: Um curso realizado num único final de semana não
irá preparar um bom árbitro por si. A formação depende muito mais do
interessado do que da Federação. O curso tem o objetivo da exposição
estritamente teórica. A prática é onde se forma de fato bons árbitros, aí
depende dele. Sobre o valor, R$ 350, não acho caro para ter uma certificação
internacional, porque em dois eventos o profissional já paga seu curso. Para
pensarmos em valor temos que fazer algumas comparações com outros esportes como
o Judô, MMA, Boxe, só para citar alguns.
Espaço BJJ: Você acha que falta valorização a profissão?
Dema: Sou otimista, quem deve valorizar a profissão são
os profissionais. Nós temos que impor o respeito, não aceitar cachê muito
baixo, nem condições ruins de trabalho, nem críticas desrespeitosas a nível
pessoal. Acredito que já melhoramos e melhoraremos ainda mais.
Espaço BJJ: Uma luta que você arbitrou ano passado em uma das
etapas do campeonato baiano realizado pela Federação Baiana de Jiu-Jitsu e MMA
entre dois faixas brancas repercutiu nos principais canais do esporte, onde um
dos atletas faz uma dancinha e acaba sendo desclassificado. Qual sua opinião
sobre o ocorrido?
Dema: Muito se especulou sobre o fato, mas a resposta é
que eu apenas fiz cumprir a regra. Quando se aplica a regra o árbitro está
amparado. Não é permitido nada na área de luta que não seja lutar, e ele não
lutou. Claro que temos que pensar que se trata de um faixa-branca, inexperiente,
todavia a regra é para todos. Quero ressaltar que a postura do professor do
atleta foi muito condizente com a de um grande Mestre quando me pediu desculpas
pelo fato. (Veja o vídeo do episódio)
Espaço BJJ: Qual foi a melhor luta que você já arbitrou? E a
pior?
Dema: Difícil dizer porque foram muitas lutas boas, mas
eu vou escolher duas que estão no Youtube. Ambas são entre os mesmos atletas
que são “Pimpolho” vs “ Kong”, uma vitória para cada. Outra luta que eu me
lembro muito boa foi entre Junior Rios e Luan Carvalho em Feira de Santana. As
lutas ruins são as que tenho que desclassificar, não gosto, quero ver
jiu-jitsu! (Confira uma das lutas abaixo)
Espaço BJJ: Quais dicas você daria para atletas, técnicos e
líderes de equipe, uma vez que sabemos que o árbitro sempre é bastante
contestado e criticado por suas atuações?
Dema: A crítica é válida, não se pode ter medo de
criticar, porém há formas educadas de fazer isso. A crítica ajuda no
crescimento do evento. Há um coordenador de arbitragem em todos os eventos,
esse é a pessoa com a qual devem ser feitas as críticas. Esse é responsável por
chamar a atenção do árbitro, substituí-lo, propor cursos de reciclagem, enfim,
responde pela equipe.
Há outra demanda que me incomoda muito, talvez a todos os árbitros, que
é a falta de conhecimento da regra. Portanto professores, leiam, estudem, por
que o faço quase todos os dias, e ainda assim cometo alguns equívocos.
Espaço BJJ: Quais são seus os planos para 2016?
Dema: Quero arbitrar um evento internacional no Rio e
outro em Salvador. Além desses vou continuar firme nos baianos da FBJJMMA e
participar de algumas copas que seja convidado.
Espaço BJJ: Depois desse tempo na arte suave, quais são os
seus sonhos com no esporte e na profissão de árbitro?
Dema: Meu sonho no esporte como atleta é consegui
uma medalha em um evento internacional da CBJJ, quem sabe ser campeão, e
disputar o mundial Master. Como árbitro, espero um dia poder arbitrar uma final
do mundial na faixa preta adulto, que sabe até o absoluto.
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